O Marquês da Bacalhoa
EAN13
9798215124741
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Date de publication
Collection
Clássicos da Literatura Gay
Langue
portugais
Langue d'origine
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O Marquês da Bacalhoa

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Concluído em 1907, o romance a clef "O Marquês da Bacalhoa", da autoria de
António de Albuquerque, seria publicado no ano seguinte sob a chancela da
Imprimerie Liberté de Bruxelas, embora se pense que terá sido impresso numa
pequena tipografia de Lisboa. O livro chegaria ao público numa época de grande
tumulto da história portuguesa, pouco antes do regicídio e da implantação da
república. Pelo retrato transparente que faz dos principais atores políticos
deste período, de onde se destacam o rei D. Carlos (o Marquês da Bacalhoa),
apresentado como o supremo lúbrico e hedonista, e o "ditador" João Franco,
ambos em diálogo com o conservador e romântico Mouzinho de Albuquerque, o
herói da pacificação de Moçambique depois da derrota do régulo Gungunhana, e
sobretudo por utilizar explicitamente os rumores que corriam sobre o
lesbianismo da rainha D. Amélia como argumento central do enredo, o livro
causou enorme escândalo à época e foi proibido, o que estimulou ainda mais a
curiosidade do público, que correu a comprá-lo clandestinamente, apesar do seu
preço muito elevado, esgotando rapidamente os 6000 exemplares que terão sido
impressos.

A Marquesa de Bacalhoa (a rainha D. Amélia) será, com efeito, uma das grandes
protagonistas do romance, com a sua « predileção criminosa pelos amores
sáficos», resultante da sua "educação num meio beato e dissoluto, viciado
desde criança pelas amigas, ávidas amantes do seu corpo alvo e arredondado; o
misticismo característico de todas as grandes invertidas», bem como, mais
tarde, de um «casamento» que viria a «desiludi-la cruelmente do homem», do
«sofrimento da gravidez, tendo o doloroso parto por epílogo» e de tudo «que
desgosta a mulher do macho, a lança na prática das sensualidades mais
requintadas, mais ardentes e menos perigosas.»

Contudo, não deveremos ler "O Marquês da Bacalhoa" apenas à luz do escândalo
panfletário que despertou. Uma leitura contemporânea do romance permite-nos
compreender melhor as dinâmicas políticas e sociais de um período importante
da história portuguesa, lançando um olhar crítico sobre as debilidades e
vacuidade da família real, da aristocracia portuguesa e dos clérigos
católicos, bem como sobre as instituições, os políticos e os jornalistas
portugueses, tanto monárquicos como republicanos. Nestes círculos sociais e
políticos, a homofobia e a misoginia imperam, e são utilizados como arma para
denegrir e ridicularizar, com vista a reprimir e dominar. Curiosamente, numa
perspetiva diametralmente oposta, ao contrário de consubstanciar a violência e
o caos, o anarquismo, que a persona do autor defende apaixonadamente, é
apresentado como a única ideologia que pode conduzir à completa liberdade
individual e à verdadeira fraternidade: "Desvenda-lhe [ao povo] as belezas da
natureza, impõe-lhe primeiro que tudo o amor pelo belo, para assim ele
abranger depois o do próximo; inspira-lhe o desprezo e o rancor por tudo
quanto é falso e foi apenas criação do egoísmo: — ídolos, leis, religiões,
justiças e castigos. Despedaçando-lhe as peias dos preconceitos, depressa
fitarão sem receio a luz da verdade e poderão largamente compreender a única e
suprema felicidade da vida, a alegria de saber perdoar e fazer bem."
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